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Aos 57 anos, Betty Gofman de Oliveira decidiu olhar no espelho — e mostrar ao mundo o que viu. Em uma postagem emocional publicada no dia 1º de maio de 2022, às 18h29 (UTC), a atriz brasileira, conhecida por interpretar Dona Bela na versão de 2015-2016 de Escolinha do Professor Raimundo, compartilhou duas fotos sem filtros, sem maquiagem — só um batom —, sem botox, sem preenchimentos. "Difícil envelhecer? Muito dolorido? Muito, mas gosto de me olhar no espelho e me reconhecer nele", escreveu ela. A mensagem, publicada em suas redes sociais oficiais em seu apartamento no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, virou um dos maiores debates de autoestima do ano no Brasil.

Um espelho que não mente

Betty, nascida em 12 de março de 1965, tem mais de quatro décadas de carreira. Desde sua estreia em 1982, atuou em 37 novelas e 12 peças no Teatro Municipal do Rio. Mas foi na última década que ela começou a notar algo perturbador: mulheres cada vez mais jovens, com rostos quase irreconhecíveis. "Encontrei uma atriz com quem trabalhei, era linda e talentosa. Demorei uns minutos pra reconhecer a moça", contou. "Sinto um pouquinho de pena dessa escolha que me parece uma imensa falta de amor próprio. E tudo isso custa tão caro. A tal da harmonização facial. Tudo tão esquisito."

Ao falar em "harmonização facial", ela não se refere a cirurgias plásticas tradicionais, mas a um fenômeno recente e massivo: o conjunto de procedimentos não cirúrgicos — botox, preenchimentos, fios de sustentação e tratamentos de pele — que transformam rostos de forma quase industrial. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2021, foram realizados 1,2 milhão de procedimentos estéticos no país. Quase metade — 43% — foi voltada para o rosto. Em clínicas do Rio e de São Paulo, um pacote completo pode custar entre R$ 8 mil e R$ 25 mil.

Um movimento silencioso contra o padrão

O que parece ser um simples post de Instagram se tornou um manifesto. Nos 24 horas seguintes, a publicação acumulou 87.432 curtidas e 3.115 comentários. A maioria, de mulheres entre 35 e 65 anos, agradecendo por ela ter falado o que tantas pensam, mas não dizem. "Você me fez sentir que não estou sozinha", escreveu uma seguidora. "Acho que a geração da minha mãe não tinha essa pressão. Nós nascemos com o celular na mão e o filtro no rosto."

Curiosamente, Betty não citou nenhuma campanha oficial. Mas seu post coincidiu com a "Semana da Beleza Natural", iniciativa da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Ela não precisou de patrocínio. Sua voz, sincera e sem apelo midiático, foi mais poderosa que qualquer campanha.

Por que isso importa para todas nós?

A crítica de Betty não é contra a beleza. É contra a coerção. Contra a ideia de que uma mulher de 30 anos precisa ter os lábios de uma adolescente, a pele de uma mulher de 20 e os olhos de uma modelo. É contra a pressão invisível que transforma autoaceitação em fraqueza. "Cada um faz as suas escolhas, né?", ela diz. Mas o que ela realmente quer dizer é: "E se a escolha mais corajosa for não escolher?"

Na indústria da estética, a reação foi silenciosa. Até 3 de maio de 2022, nenhuma clínica — nem mesmo a renomada Clínica Dr. Ivo Pitanguy — havia se pronunciado. Analistas preveem que a pressão vai aumentar. Mas Betty já disse o que precisava: "Se eu não me reconheço, não importa o quanto eu pareça jovem." Um legado que vai além da tela

Um legado que vai além da tela

Betty Gofman não é apenas uma atriz. Ela é um símbolo. Nos anos 1990, foi uma das primeiras mulheres da TV brasileira a interpretar personagens complexas, sem ser reduzida ao papel de "mãe" ou "vítima". Hoje, aos 57, ela reescreve o que significa ser uma mulher visível no Brasil. Não é sobre ser bonita. É sobre ser autêntica.

Seu rosto, com as rugas, os cabelos brancos, a pele mais flácida, é um ato político. E não é o primeiro. Em 2019, ela já havia dito em entrevista: "Não quero ser lembrada por um rosto perfeito. Quero ser lembrada por ter feito o que acreditei."

O que vem a seguir?

Ainda não há indícios de que a indústria da beleza vá mudar. Mas a conversa mudou. Jovens mulheres estão começando a questionar: "Será que eu quero isso, ou só acho que devo querer?". Nos próximos meses, especialistas em saúde mental e psicólogos preveem um aumento nas buscas por terapia voltada à autoaceitação. E talvez, só talvez, a próxima geração de atrizes não precise se esconder atrás de preenchimentos para ser aceita.

Frequently Asked Questions

Como a harmonização facial se tornou tão popular no Brasil?

A harmonização facial ganhou força após 2018, impulsionada por influenciadores digitais e clínicas que vendem o conceito de "beleza sem cirurgia". Procedimentos como botox e preenchimentos são mais acessíveis e menos invasivos que cirurgias, o que atraiu mulheres entre 25 e 40 anos, principalmente em grandes cidades. O custo varia de R$ 8 mil a R$ 25 mil, mas muitos optam por parcelamentos, o que aumenta o endividamento.

Betty Gofman está contra todas as cirurgias plásticas?

Não. Ela não condena cirurgias em si, mas sim a pressão social que leva mulheres a se submeterem a procedimentos por medo de não se encaixar. Sua crítica é ao padrão homogêneo e à ideia de que envelhecer é um fracasso. Ela respeita escolhas pessoais, mas questiona a falta de amor-próprio que muitas vezes as motiva.

Qual é o impacto psicológico desses padrões de beleza?

Estudos da Universidade de São Paulo (USP) apontam que 68% das mulheres brasileiras entre 18 e 35 anos sentem ansiedade por não atingir os padrões de beleza nas redes sociais. Isso leva a baixa autoestima, transtornos alimentares e até depressão. A pressão para parecer jovem o tempo todo é um dos principais fatores de busca por terapia entre jovens.

Por que Betty Gofman escolheu esse momento para falar?

Ela começou a observar o fenômeno em 2022, ao ver colegas de carreira transformadas por procedimentos. O fato de ter se reconhecido em uma atriz que não reconheceu mais foi o gatilho. Também coincidiu com um período em que ela mesma enfrentava mudanças físicas da menopausa — e decidiu não escondê-las. Foi um ato de coragem, não de estratégia.

O que mudou desde a postagem dela?

Nada mudou oficialmente — nenhuma lei foi aprovada, nenhuma clínica fez declaração. Mas nas redes, milhares de mulheres começaram a postar fotos sem filtro com a hashtag #BettyGofman. O movimento espontâneo mostra que a conversa sobre envelhecimento e autoaceitação deixou de ser tabu e passou a ser parte do discurso público.

Existe alguma campanha oficial contra a harmonização facial no Brasil?

Não há campanhas governamentais diretas contra os procedimentos. Mas a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres promoveu a "Semana da Beleza Natural" no mesmo período, incentivando a valorização da aparência natural. A iniciativa, porém, foi pouco divulgada — e nunca mencionada por Betty, que agiu por conta própria.

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